Eu comecei nesse mundo da infertilidade no início de 2016, quando depois de um ano de tentativas naturais, nada aconteceu.
De lá pra cá, muita coisa mudou.
Meu milagre aconteceu. Minha pequena tem 5 anos e meio e é a luz da minha vida. Sem dúvida nenhuma é por ela que eu levanto da cama todas as manhãs e que me esforço para ser uma pessoa feliz e otimista.
Ela que me diz que eu sou linda de qualquer jeito, que chora sempre que eu saio, que diz que me ama mil vezes por dia, que ama ficar literalmente grudada comigo. Ela é meu maior sonho realizado, pra mim, a prova de que Deus existe.
Mas... Minha relação com Deus não tem sido das melhores nos últimos anos. Tem sido distante, um tanto conturbada. Eu simplesmente não entendo os caminhos dele.
Escutei e li muitas vezes a frase "Deus não nos dá um sonho que não possa realizar". E o desejo da maternidade continua tão forte em mim! Mas até hoje, o segundo filho não veio. São 3 anos e meio de tentativas. Todos os meses de forma natural. Duas FIVs, uma TEC de embrião aneuplóide obviamente sem sucesso e 2 TECs de embriões com óvulos doados, euplóides, 100% negativas.
Quando parti para ovorrecepção aos 38 anos, achei que fosse a solução de todos os meus problemas e meu segundo filho chegaria ali. Porque afinal, eu sabia que era capaz de gestar e meu problema era conseguir bons óvulos e embriões. Mas não foi bem por aí... Na primeira TEC negativa eu fiquei muito muito triste. Não entendi porque aquilo aconteceu. Meu casamento estava ruim, estávamos cada vez mais distantes e eu cada vez mais infeliz.
Quando nos acertamos, decidimos transferir aquele último embrião. Eu me sentia completamente pronta, preparada. Como se tudo que estava errado tivesse se resolvido e até o médico da acupuntura me disse que eu estava transferindo no momento certo, porque ele sentia o quanto eu estava bem. E mesmo assim, tudo deu errado.
Não vou usar a expressão "meu mundo desabou" porque não é verdade. Meu mundo continuava ali. Loiro, lindo, me chamando de mamãe e enchendo minha vida de cor. Os dias cinza vieram, mas a luz dela é tão forte e radiante, que logo meu sol se abriu de novo. Mas tive dias de choro, de isolamento, de brigas com Deus, de não me conformar. O mundo teve dois filhos, teve 3, teve 4 filhos. O mundo ao meu redor engravidou naturalmente de gêmeos, o mundo ao meu redor escolheu quantos filhos ter, como a família deles deveria ser. Eu não. Quem escolheu o tamanho da minha família foi a minha infertilidade.
O que pegou muito forte, foi que meu marido havia decidido que aquela seria nossa última tentativa. Como eu acreditava muito que óvulos doados era a solução, e que aquilo daria certo, concordei.
O ano de 2022 foi horrível pra mim. Depois das TECs negativas, recebi o diagnóstico de uma doença auto imune hepática (do fígado) que pode me levar à cirrose. Tivemos uma mudança enorme de cidade, que apesar de eu ter sido a favor, a nova realidade foi um baque pra mim. Um baque emocional, um baque financeiro. Meu ano terminou da pior forma possível. Infeliz, desanimada, sentindo que faltava alguma coisa.
Passei 1 ano e meio após a última TEC tentando me conformar com a idéia de ter apenas um filho. A minha filha maravilhosa. Ás vezes me pego usando a expressão família incompleta, mas essa não é a verdade. Minha filha preenche todos os espaços do meu coração. Eu sou completa de amor. Mas mesmo assim, eu desejo muito reviver tudo.
A frase mais perfeita que encontrei foi de uma paciente do Dr. Rodrigo Rosa que disse "o primeiro filho foi meu milagre. O segundo filho me curou." Eu não me sinto curada. Me sinto imperfeita, quebrada, menos mulher. Eu recebi um milagre, mas continuo infértil.
Todas as vezes que tentei falar sobre o assunto com meu marido, ele me tratou mal. Foi seco, grosso, ríspido. Deixou bem claro que nunca mais faria uma FIV. Até que cheguei num ponto que não aguentei mais. Vi que isso não sairia do meu coração enquanto não esgotasse todas as minhas possibilidades. Disse a ele que tentaria de novo, muitas vezes. E que ele poderia não fazer parte disso, mas eu esperava que mudasse de idéia. Ele mudou.
O medo dele não é do segundo filho. É da minha dor, do meu sofrimento. Dos dias cinzas.
E aqui estou eu, me preparando pra recomeçar. E recorrendo a esse diário, para tentar falar dos sentimentos, para chorar sozinha, para me acalmar e não demonstrar tudo aqui em casa.
Mas pra quem acha que eu deveria curtir mais a minha filha e sofrer menos por um segundo filho... Eu só posso dizer que eu curti cada segundo da vida dela até agora. Eu curto cada minutinho, de quando ela acorda até quando vai dormir. O cheiro, a conversa, os aprendizados, as risadas. Amamentei até 5 anos!! Até hoje nunca passei mais do que uma noite longe dela. Eu tenho certeza mais do que absoluta de que seria impossível ser mais presente do que já sou e nunca terei nenhuma crise do tipo "perdi essa fase tão linda dela...". Não perdi e jamais perderei qualquer coisa do presente mais lindo que recebi nessa vida.
Logo estarei aqui de novo. Essa semana é minha consulta para reinicinar os tratamentos.