28/06/2016

Todas as tentativas

Meu marido é espírita desde criança, uma das poucas pessoas que conheço que foi criada assim e não se tornou depois de adulta.
Eu sempre gostei, li diversos livros da Zíbia Gasparetto, que apesar de serem todos romances, ensinam bastante sobre as leis que regem o espiritismo.

E com pouco mais de um ano de namoro (temos mais de 8 juntos), eu comecei a frequentar o centro espírita com ele... 
Longe de discutir religiões, principalmente porque eu me acho mais Cristã do que Espírita. Fui batizada e fiz primeira comunhão... Fiz intercâmbio numa família Evangélica. Há poucos anos participei de retiro Evangélico e minha mãe ainda me dá a medalha de nossa Sra quando quer que eu me sinta "cuidada" e protegida...

Mas sinto que o Espiritismo me explica o porque de tudo. Acredito em reencarnação, acredito que estamos aqui para evoluir, mas acima de tudo, acredito em Deus.

Temos uma amiga que tentava engravidar há cerca de 7 anos. Todos os exames normais, ficou como Infertilidade Sem Causa Aparente mesmo...
E ela resolveu procurar um centro espírita que faz um trabalho de cura espiritual... Eu sabia que ela iria fazer, mas nunca me chamou a atenção, porque eu acredito muito na medicina! 

E aí, há pouco mais de 1 mês, ela contou que está grávida. No início, achei que ela tivesse feito outra FIV e não queria contar... Mas depois, vi que não. Milagrosamente, ela engravidou de modo natural, após 7 anos de muitas tentativas e procedimentos. Deus, com auxílio de um Espírito de Luz (que era médico em sua última encarnação), auxiliado por um médium, curaram seja lá qual era o problema que ela tinha. 

Como não acreditar, se leio tanto sobre a doutrina, digo que acredito e vejo isso acontecer tão próximo de mim?

Meu marido sugeriu que nós fizessemos o tratamento também.
Mês passado, acabamos não indo. Tinha esperança de ter engravidado (aliás, tenho todos os meses)... E deixei passar.
Depois de mais um negativo, resolvi tentar.

O centro fica a quase 400km daqui... O primeiro dia é a consulta: você diz qual o seu problema e ele te receita remédios e uma dieta, sem nenhum tipo de carne animal e bebida alcoolica. Na semana seguinte, voltamos para a cirurgia. Ele disse que meu marido deveria fazer também todo o tratamento, apesar de eu achar inicialmente que só eu precisaria...
E esse sábado, fizemos a cirurgia. É um procedimento super simples, rápido, não tem nada de cortes... É só espiritual mesmo.
Continuo fazendo o tratamento, que dura mais um mês e neste mês não posso fazer "tentativas"!

Não sei como Deus vai mostrar a minha cura. Se me permitirá engravidar de forma natural, se fará com que eu tenha bons óvulos na minha FIV. Sei que qualquer resultado que me faça ser mãe, eu levarei como sendo a cura que Deus me enviou, mesmo que pra isso, ainda precise de uma ajuda da medicina. 

Tenho estado mais calma e tentado controlar a ansiedade e a tristeza. Alguns dias são mais difíceis, mas tenho me esforçado!

Essa semana passei com outro médico, e determinei a data para a FIV: setembro.
Teremos dois meses de tentativas naturais até lá.
E que DEus decida o melhor caminho e que me auxilie a aceitar o caminho que escolheu pra mim. 

17/06/2016

E mais uma vez... Nada deu certo.


As coisas deram errado, eu continuo menstruada (e muito) e infelizmente tive que cancelar a minha histeroscopia, que deveria ter sido feita hoje pela manhã.

Meu ciclo dura normalmente 5 dias, com fluxo mínimo, e no último dia, geralmente borra de café. Hoje estou no 6o dia, com sangue vivo e fluxo até bem alto pros meus padrões. Ou seja, se é possível dar errado, vai dar.

Incrível como desde que eu comecei a tentar engravidar, todos os meus planos dão errado.

Sei que parece exagero, mas não é.
É médica que desmaca ultrassom no dia que eu precisava fazer controle de ovulação, médico que desmarca histerossalpingo quando eu já estava na estrada indo fazer (a primeira fiz numa cidade a 100km daqui e já estava mais do que na metade do caminho...!), é menstruação que dura muito mais que todos os outros ciclos quando ela não poderia durar pra poder fazer a histeroscopia...

Meu trabalho exige muito de mim e meus horários são bem complicados. Tento sempre dar um jeito, (sou autônoma, mas trabalho em 3 lugares diferentes), mas certas coisas não são possíveis. Num dos meus trabalhos, tenho que avisar com 60 dias de antecedência, ou sofro uma multa (que não é baixa) no salário final. Esse trabalho, é justamente às sextas feiras, que é o dia em que a única médica (que faz esse procedimento) da minha cidade faz a histeroscopia. Ou seja, tive que mudar a minha agenda de hoje, terei a multa descontada do meu salário e não fiz o exame.
Ontem fiquei arrasada pois não posso remarcar para tão cedo (só daqui a 60 dias), mas a médica foi bem legal e disse que tentará agendar para quarta-feira, que pra mim é um pouco menos complicado.

Vamos torcer.

Sem a histeroscopia, não posso realizar a FIV, pois foi uma das exigências da médica de SP com quem estou acompanhando. Então se não realizar nesse ciclo, também não posso tentar a indução no próximo mês e cada dia mais vejo meu sonho ficar distante...
Com a baixa reserva ovariana, é uma luta contra o tempo e quanto mais eu atrasar as tentativas, menor é minha chance (que já é bem ruim na verdade...).

Enquanto isso, as coisas aqui em casa andam bem difíceis. Marido não sabe lidar com todo meu sofrimento e a gente acaba brigando, sempre que entramos a fundo nesse assunto. Ele tem se esforçado, essa semana tem sido bem carinhoso, presente, mas não sabe o que fazer quando eu falo dos problemas e desando a chorar. Ele realmente não entende a minha dor, porque acredita que é tudo no tempo de Deus e um dia, por mais que demore, vai dar certo.

Certo como? Certo quando? Sei que o filho que eu tiver, será escolhido por Deus para vir como meu filho. Mas será meu? Será adotado, óvulo doado (apesar de eu não aceitar essa idéia ainda...)? Eu quero um filho que seja metade meu, metade do meu marido. Com as nossas características, com a nossa genética, que eu consiga enxergar nele um pedacinho de cada um de nós.
A minha idéia de filho, não é gerar. É ser meu, é me enxergar nele... Minha questão não é ver a barriga crescer por 9 meses, que é o que todo mundo quer quando opta por óvulos doados... É saber que cada pedacinho dele é meu e do meu marido. Que os defeitos são nossos, as qualidades também.

Será que Deus vai me conceder isso? Às custas de quanto sofrimento? De quantos dias de choro, de tristeza? E se mesmo com todo esse sofrimento, depois de anos de tentativas, Deus decidir que meu filho não poderá vir de mim?

Tudo isso me aflige demais e essa dúvida do futuro é a que mais me faz sofrer.





15/06/2016

Eu creio, eu confio e eu aceito.

Na segunda feira, fizemos o Evangelho no Lar. Tentamos fazer toda semana, mas confesso que a vida corrida à vezes atrapalha e acabamos esquecendo.

Incrivelmente, o capítulo que iríamos começar, era sobre aflições... E eu sempre leio e meu marido escuta (tenho dificuldade de concentrar quando outra pessoa está lendo...). Conclusão: chorei durante 40 minutos. Eu sempre brinco que Deus não fala comigo, ele grita! Certas coisas são tão óbvias que parece que foram ditas por Ele... E no dia em que eu mais questionei a minha fé, a minha leitura era exatamente sobre isso.

Meu marido é espírita e eu sigo a doutrina há vários anos também. Acredito em reencarnação, acredito que se sofremos hoje é porque estamos corrigindo algum erro do passado e se não acreditasse nisso, talvez minha revolta fosse ainda maior.
Apesar disso me confortar, ao mesmo tempo, me desespera. Se eu vim nessa vida pra sofrer pelos erros do passado e assim evoluir como pessoa, isso não pode indicar que meu destino nessa vida é não ter filhos?

Rezo pra Deus entender que se fiz algo contra a vida de algum filho, ou se não dei o amor e valor que eles mereciam, que eu jamais faria isso nesse momento. Que me arrependo, que mudei, que sou melhor de coração e que se Ele me permitir ser mãe de um filho meu, serei a mãe mais amorosa e zelosa que eu possa ser!

Nada tem sido fácil.

E pra mim, o mais difícil de aceitar, é o medo do futuro.
Se eu conseguisse confiar plenamente de que por mais que demore, meu dia de ser mãe irá chegar, acho que levaria melhor as pauladas da vida.

Ontem fiz um exercício de fé e tentei não ter pensamentos negativos. Vi um vídeo da Bianca Toledo em que ela fala exatamente isso, sobre a dificuldade dela em engravidar (ela tem o diagnóstico de endometriose, e engravidou) e ela usou essa frase: "Eu quero, eu creio, eu aceito". Então vamos lá: Eu quero muito. Eu creio que Deus me abençoará. Eu aceito que Deus sabe a melhor hora pra mim. Mas que essa hora seja logo! =)

Pretendo voltar na médica de reprodução humana no final do mês e se tudo der certo, mês que vem iniciar a minha FIV.

Só espero do fundo do coração, não desabar por completo se ainda não for o tempo de Deus...


14/06/2016

E ontem eu chorei.

Há muitos anos, eu tinha um blog. Não desses de moda, do tipo de blog que a gente encontra o tempo todo na internet, mas desses blogs pessoais. Eu falava da vida, contava meus casos e causos, dividia meu sofrimento e fiz várias amizades. Algumas passaram pra vida real, outras continuam no virtual, mas viraram amigas mesmo.
Isso já tem mais de 15 anos.

E hoje, eu resolvi voltar aqui. Criar um novo blog, pra dividir com sei lá quem (ou que seja com ninguém) todo meu sofrimento. Desabafar, mesmo que seja na forma de um diário e que ninguém leia.

O título hoje, e que acabou virando o nome do blog, é literal. Ontem eu chorei. Muito. Um pouco mais do que nos outros dias, mas não dá pra dizer que foi o dia em que mais chorei.
Porque o choro tem se tornado frequente. E pra ser sincera, não acho que passe pelo menos um dia em que eu não derrame ao menos uma lágrima. Quando começo a pensar em tudo que estou vivendo, meu olho sempre acaba marejando... E alguns dias são piores e eu acabo aos prantos, como ontem.

Há muito tempo, a história do relógio biológico se tornou realidade na minha vida. Casei aos 28 anos, coloquei DIU, com a certeza de que não pensaria em filhos por uns 3 anos pelo menos. A vida acabou mudando um pouco os planos e eu tive que adiar mais do que isso. Mas quando passei dos 30 anos, o reloginho começou a despertar e o desejo de ser mãe se tornou parte de mim, apesar de eu saber que isso ainda não seria possível...
Há exatamente 1 ano e 2 meses, aos 32 anos, quando não tinha mais nada inadiável na minha vida, eu tirei o DIU. E à partir daquele momento, virei uma tentante oficial.

Os primeiros meses foram um tanto desencontrados. Não entendia muito do meu corpo, não sabia meu período fértil, o marido não queria muito... Depois de uns 4 meses, comecei a pesquisar e entender e o marido a entrar na onda. Só que nada acontecia. Depois de 7 meses eu já me sentia angustiada, chorando a cada teste negativo e sentindo que alguma coisa estava errada.

Não sei ao certo porque, mas eu sempre tive um feeling de que teria problemas pra engravidar. Mas era aquela coisa boba, que eu tentava ignorar e que vinha à tona quando eu não entendia porque o tempo estava passando e nada acontecia...

Meu G.O. achava tudo normal, justificava pelo fato de que eu não via o meu marido com a frequência devida, mas eu sabia que não era isso.

Com 10 meses, procurei um especialista em reprodução, que antes de descobrir o meu problema, já disse que talvez uma fertilização fosse o mais indicado! Como assim? Mas pelo menos, foi ele quem pediu a histerossalpingografia e à partir daí, eu fui descobrir qual é o meu problema real.

Pula pra hoje: já fiz 2 HSG, e no final, tenho uma trompa boa e uma que não dá pra saber se é espasmo e obstrução. Tudo isso me levou a pesquisar sobre FIV e por isso acabei fazendo diversos exames que me levaram ao meu diagnóstico: baixa reserva ovariana - ou seja, meus ovários e óvulos, envelheceram bem antes do resto do meu corpo.

Tenho um FSH alto (15), um antimulleriano bem baixinho (0,77) e chances pequenas em qualquer tentativa: seja natural, seja coito programado, inseminação ou fertilização.

E durante esse prazo todo de investigações (essa semana faço o último exame, uma histeroscopia), todas as pessoas ao meu redor engravidaram, até as mais improváveis. E acabei criando um certo pânico de eventos sociais - estar 100% do meu tempo livre ao redor de grávidas (e invariavelmente ninguém fala de mais nada além de gravidez e filhos) não tem facilitado a aceitação da minha realidade.


Cheguei num ponto de duvidar da justiça e da bondade de Deus. Afinal, que justiça é essa que permite que eu sofra tanto e outros consigam tudo com tão pouco esforço?

Já pedi perdão por me sentir assim e sei que devo estar errada, que Ele sabe o nosso tempo e só Ele conhece os nossos caminhos. Mas nesse momento, não consigo me sentir de outra forma.

E não consigo não chorar todas as noites.